terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Episódio 3.06 - Red Sky at Morning


A mão da glória é um dos artefatos mágicos que curiosamente tem seu uso documentado, em autos inquisitoriais e em acusações de roubo pela Europa. De fato, ninguém muito decente teria uso para uma Mão da Glória, um objeto cuja história está ligada a algumas feiticeiras e a um grande número de ladrões. Suas primeiras citações datam de 1440, mas o nome Mão da Glória foi citado só a partir de 1770. O nome originalmente designava um pedaço de raiz de mandragora, em francês, maindeglorie, uma raiz muito conhecida em magia, e que guarda semelhanças com o corpo humano.

Basicamente, a Mão da Glória é uma mão humana seca, retirada de um enforcado, cujos dedos estão posicionados para segurar uma vela. Essa vela, quando acesa dentro de uma casa com o devido encantamento, gera dois efeitos: sua luz só serve para seu portador, e impede que qualquer um dormindo na casa desperte. Para um ladrão, é realmente a glória: nada para interromper, um tipo de crime perfeito. Mas como um amuleto nunca é conseguido de maneira fácil, para conseguir uma mão da glória não basta decepar a mão do primeiro enforcado que vir...

O corpo tem de estar morto a menos de vinte e quatro horas, e a mão devia ser separada do corpo de um só golpe. Nesse momento também se pegaria cabelo e gordura do cadáver, para produzir a vela que a mão segura. Então, a mão seria drenada de todo o sangue, usando para isso um pedaço de tecido de mortalha, e mergulhada em uma mistura de sal, salitre, amônia, pimenta, e outras especiarias (o que lembra bastante o goofer dust), e guardada por duas semanas em um recipiente de terracota (um tipo de cerâmica). Depois disso, ela ficaria secando ao sol nos dias mais quentes do ano, ou, na falta disso, em um forno, onde junto seria queimado verbena e abeto.

A mão seria então moldada como um punho, onde se encaixaria a vela, feita com gordura humana, cera virgem de abelha e óleo de gergelim. O cabelo do enforcado serve para fazer o pavio.

Em outras versões, a mão é embebida em cera e cada dedo é aceso (ainda usando cabelo como pavio).

Uma vez dentro da casa onde planejava o assalto, bastava ao possuidor pronunciar um determinado verso enquanto a acendia, e ninguém que estivesse adormecido na casa poderia despertar. Além dessa propriedade mágica, a vela poderia ser até mesmo mergulhada na água semse apagar: apenas leite fresco, sangue ou a vontade do seu dono pode apagar a chama da vela, que igualmente, queima sem se consumir.

O Museu Whitby, na Inglaterra, possui uma Mão da Glória em sua coleção.

Existem inúmeras citações a Mão da Glória em filmes, seriados, histórias em quadrinhos e livros. Vale lembrar que Draco Malfoy, na série de livros Harry Potter é possuidor de uma Mão da Glória.


Para ver a legítima Mão da Glória, visite a página do Museu Whitby clicando aqui.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Episódio 3.05 - Bedtime Stories


Nada é mais falso do que dizer para uma criança que o mundo dos contos de fadas não existe. Dentro da visão infantil, o mundo fabular é tão real quanto o mundo cotidiano, porque é através dele que a criança (e também o adulto) trabalha com os símbolos e questões que habitam nosso subconsciente. Nas histórias estão instruções que nos orientam nas complexidades da vida. Os contos de fadas vão muito além das intruções óbvias, de obediência, honradez, sinceridade. Eles tem um sentido arquetípico que permeia as histórias e nos influencia e ajuda a resolver questões psicológicas profundas.

O psicanalista austríaco Bruno Bettelheim, em seu livro A Psicanálise nos contos de fadas, diz: "os junguianos frisam (...) que as figuras e os acontecimentos dessas histórias estão de acordo com fenômenos arquetípicos, e simbolicamente sugerem a necessidade de se atingir um estado mais elevado de autoconfiança, uma renovação interna conseguida à custa de forças inconscientes que se tornam disponíveis ao indivíduo”.

Uma das coisas presentes nos contos maravilhosos é a idéia de Jornada. O personagem principal empreende uma busca, seja por um objeto mágico, seja fugindo por sua vida, seja tentando atravessar a floresta ou chegar a um baile. Mesmo que fique o tempo todo no mesmo ambiente, ele tem um objetivo que o impele adiante.

O que torna qualquer história instigante e permite que nos identifiquemos e ao mesmo tempo nos faz aprender mais sobre nós mesmos é essa jornada, a jornada do herói. É a jornada onde o herói, o personagem, se transforma e se encontra consigo mesmo. (vou escrever especificamente sobre Sam Winchester vivenciando a jornada do herói, e então vou me ater mais nesse assunto).

Essa jornada nós empreendemos na nossa vida também: Quantas vezes nós não nos deixamos enganar porque queremos fazer o mais fácil ao invés do que é certo? E não é isso que põe em movimento a história da Chapeuzinho Vermelho? Cada história mostra situações que refletem situações não só do mundo físico, mas também dos nossos aspectos psicológicos. Em uma análise psicológica dos contos de fadas, todos os personagens podem ser diferentes aspectos de nossa mente, ao mesmo tempo, interagindo entre si.

Assim, cada criança encontra suas próprias lições nos contos de fadas, de acordo com o momento que vivencia, e tira das narrativas o que precisa para seguir com segurança, mesmo que inconscientemente. A cada repetição da história (e as crianças sempre pedem que se reconte as histórias), ela revive sentimentos e os retrabalha, ampliando ou substituindo significados, conforme suas necessidades naquele momento.

Muitos contos de fadas datam do período neolítico, quando os homens começaram a se fixar em cidades. Muitos elementos dos contos de fadas foram sendo modificados com o passar do tempo, sendo suavizados, como no caso de contos particularmente trágicos, ou cristianizados, em contos onde deuses e espíritos são tranformados em anjos guardiões, ou animais familiares viraram demônios, ou alterados para servir aos propósitos da sociedade de determinada época, ou o gosto de certo ouvinte. Muitas fábulas tiveram seu sentido alterado ou mascarado, mas ainda assim, suas mensagens sobrevivem.

Assim, a Bela Adormecida passa a despertar do sono pelo beijo do príncipe, enquanto que antes o príncipe a possuia em seu sono e ela só despertava quando seu bebê nascia e buscava o seio para mamar. A Chapéuzinho Vermelho passa a sobreviver, e no conto da Disney, a pequena sereia não vira espuma do mar no final. Rapunzel em versões mais antigas fica grávida do príncipe que sobe na torre (e é assim que a bruxa descobre que se encontram).

Apenas no século XIX os contos de fadas passaram a ser consideraods histórias infantis. Antes, eram considerados para todos os públicos, e adultos e crianças igualmente compartilhavam as histórias.

Os irmãos Grimm foram alguns dos que conscientemente modificaram as histórias para adapta-las ao público infantil. As+ectos sexuais e violênmcia são suavizados, e os vilões se tornam ainda mais cruéis. As histórias passam a ter menos tons de cinza entre quem é mocinho e quem é andido: os papéis ficam mais definidos (o que afasta um bocado da realidade). A moralidade vitoriana altera histórias para adequa-las a ensinar a moral de sua época.

A violência nos contos de fadas tem um motivo: é um modo seguro de lidar com conflitos psicológicos. Simbolicamente representados pelos temas das histórias, se tornam mais fáceis de entender e lidar com a ajuda dos contos de fadas.

Experimente. Observe os contos de fadas que mais mexem com você, hoje ou em sua infância, e analise o que eles te fazem pensar...



segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Episódio 3.04 - Sin City

Neste episódio, finalmente ficamos sabendo a identidade do YED. Mas quem ele é realmente?




Azazel é o demônio que os hebreus acreditavam ter domínio sobre os desertos, sobre os lugares onde Deus não agia, abandonados e selvagens.

Azazel é citado no Antigo testamento (levíticos, 16:8), quando se fala sobre a celebração do Yon Kippur, o Dia do Perdão. Nesse dia, eles pegavam dois bodes iguais, e jogavam a sorte: um, seria sacrificado no altar de Jeová, mas o outro seria libertado no deserto, carregando todos os pecados da comunidade, com uma etiqueta “para Azazel” amarrada nele. Esse era o “bode expiatório”, termo que usamos até hoje.

A etimologia do nome é obscura, o que é muito raro nos nomes judaicos, o que pode mostrar sua antiguidade. Existem diversas teorias sobre seu nome, mas eu não vou me ater a nenhuma em particular aqui já que nenhuma se sobresai como mais verdadeira.

No livro de Enoch, um dos textos apócrifos da Bíblia, Azazel é o anjo caído que ensina para a humanidade o feitio de coisas como armas e cosméticos, que não só levaram a humanidade ao pecado como macularam todo o plano divino. Toda a terra se tornou corrupta com os trabalhos que ele ensinou para a humanidade, por isso todos os pecados do Yon Kippur eram enviados para ele.

Assim sendo, Azazel é um dos grandes nomes do inferno, sendo um dos anjos caídos. Também foi um dos demônios que teve filhos com mulheres humanas. O Arcanjo Rafael o teria acorrentado em um buraco no deserto, em um monte que recebeu seu nome.

Azazel é o chefe dos Se'irin, os demônios bodes do deserto. É considerado o grande professor de guerra do Inferno, o grande organizador de exércitos.

Dentro do mito islâmico, Azazel é um dos Djins, os espíritos do fogo, que se recusou a adorar Adão e por isso, junto com seu gosto por donzelas humanas, foi expulso do Céu. Ele seria chamado de Eblis, “Desespero”.

No episódio 2.01, Im my time of dying, temos a primeira indicação de que o Demônio de Olhos Amarelos seria Azazel. Quando John Winchester invoca o demônio, ele usa o sigilo de Azazel.


Sigilo é uma “assinatura” mágica, usada para invocar e controlar demônios e seres sobrenaturais. Assim, quando John deseja invocar o demônio, ele usa o símbolo que representa seu nome. Mais sobre sigilos quando eu escrever sobre os episódios da segunda temporada...

É interessante notar a relação da cidade de Elizabethville, Ohio, com Sodoma e Gomorra. E que justamente neste episódio se nomeie Azazel, cujo grande crime foi incutir no coração dos homens o apreço pela carne e pela guerra. Em teoria, desde que Azazel desceu a Terra, toda a criação teria essa mácula. Dentro de um conceito judaico cristão, o ser humano seria naturalmente voltado ao pecado, marcado pelo pecado original instigado pela serpente, e fascinado pelos “brinquedos” ensinados por Azazel, que é “a quem se atribuem todos os pecados”.

Ainda assim, os habitantes de Elizabethville, assim como os de Sodoma e Gomorra, não precisaram de uma ajuda ativa dos demônios para se corromper. O prazer instigado pelos pecados já bastava: a corrupção natural dos seres humanos já fazia o serviço. Isso remete ao episódio 1.15, The Benders, onde os monstros são humanos, sem conecções com o sobrenatural. É interessante lembrar que mesmo entre monstros, nós mesmos ainda somos uma ameaça.