quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Episódio 3.05 - Bedtime Stories


Nada é mais falso do que dizer para uma criança que o mundo dos contos de fadas não existe. Dentro da visão infantil, o mundo fabular é tão real quanto o mundo cotidiano, porque é através dele que a criança (e também o adulto) trabalha com os símbolos e questões que habitam nosso subconsciente. Nas histórias estão instruções que nos orientam nas complexidades da vida. Os contos de fadas vão muito além das intruções óbvias, de obediência, honradez, sinceridade. Eles tem um sentido arquetípico que permeia as histórias e nos influencia e ajuda a resolver questões psicológicas profundas.

O psicanalista austríaco Bruno Bettelheim, em seu livro A Psicanálise nos contos de fadas, diz: "os junguianos frisam (...) que as figuras e os acontecimentos dessas histórias estão de acordo com fenômenos arquetípicos, e simbolicamente sugerem a necessidade de se atingir um estado mais elevado de autoconfiança, uma renovação interna conseguida à custa de forças inconscientes que se tornam disponíveis ao indivíduo”.

Uma das coisas presentes nos contos maravilhosos é a idéia de Jornada. O personagem principal empreende uma busca, seja por um objeto mágico, seja fugindo por sua vida, seja tentando atravessar a floresta ou chegar a um baile. Mesmo que fique o tempo todo no mesmo ambiente, ele tem um objetivo que o impele adiante.

O que torna qualquer história instigante e permite que nos identifiquemos e ao mesmo tempo nos faz aprender mais sobre nós mesmos é essa jornada, a jornada do herói. É a jornada onde o herói, o personagem, se transforma e se encontra consigo mesmo. (vou escrever especificamente sobre Sam Winchester vivenciando a jornada do herói, e então vou me ater mais nesse assunto).

Essa jornada nós empreendemos na nossa vida também: Quantas vezes nós não nos deixamos enganar porque queremos fazer o mais fácil ao invés do que é certo? E não é isso que põe em movimento a história da Chapeuzinho Vermelho? Cada história mostra situações que refletem situações não só do mundo físico, mas também dos nossos aspectos psicológicos. Em uma análise psicológica dos contos de fadas, todos os personagens podem ser diferentes aspectos de nossa mente, ao mesmo tempo, interagindo entre si.

Assim, cada criança encontra suas próprias lições nos contos de fadas, de acordo com o momento que vivencia, e tira das narrativas o que precisa para seguir com segurança, mesmo que inconscientemente. A cada repetição da história (e as crianças sempre pedem que se reconte as histórias), ela revive sentimentos e os retrabalha, ampliando ou substituindo significados, conforme suas necessidades naquele momento.

Muitos contos de fadas datam do período neolítico, quando os homens começaram a se fixar em cidades. Muitos elementos dos contos de fadas foram sendo modificados com o passar do tempo, sendo suavizados, como no caso de contos particularmente trágicos, ou cristianizados, em contos onde deuses e espíritos são tranformados em anjos guardiões, ou animais familiares viraram demônios, ou alterados para servir aos propósitos da sociedade de determinada época, ou o gosto de certo ouvinte. Muitas fábulas tiveram seu sentido alterado ou mascarado, mas ainda assim, suas mensagens sobrevivem.

Assim, a Bela Adormecida passa a despertar do sono pelo beijo do príncipe, enquanto que antes o príncipe a possuia em seu sono e ela só despertava quando seu bebê nascia e buscava o seio para mamar. A Chapéuzinho Vermelho passa a sobreviver, e no conto da Disney, a pequena sereia não vira espuma do mar no final. Rapunzel em versões mais antigas fica grávida do príncipe que sobe na torre (e é assim que a bruxa descobre que se encontram).

Apenas no século XIX os contos de fadas passaram a ser consideraods histórias infantis. Antes, eram considerados para todos os públicos, e adultos e crianças igualmente compartilhavam as histórias.

Os irmãos Grimm foram alguns dos que conscientemente modificaram as histórias para adapta-las ao público infantil. As+ectos sexuais e violênmcia são suavizados, e os vilões se tornam ainda mais cruéis. As histórias passam a ter menos tons de cinza entre quem é mocinho e quem é andido: os papéis ficam mais definidos (o que afasta um bocado da realidade). A moralidade vitoriana altera histórias para adequa-las a ensinar a moral de sua época.

A violência nos contos de fadas tem um motivo: é um modo seguro de lidar com conflitos psicológicos. Simbolicamente representados pelos temas das histórias, se tornam mais fáceis de entender e lidar com a ajuda dos contos de fadas.

Experimente. Observe os contos de fadas que mais mexem com você, hoje ou em sua infância, e analise o que eles te fazem pensar...



4 comentários:

Anônimo disse...

Esse texto ficou ótimo. Muito bom para um episódio que foge do comum com uma ameaça mais paranormal que supernatural que usa os contos de fada como base.

Anônimo disse...

Eu poderia ter falado sobre Experiências fora do corpo, mas isso já foi citado em In my time of dying, então preferi deixar para escrever sobre isso quando falar da segunda temporada.

Unknown disse...

Excelentes explicações sobre os contos de fadas! Vivemos uma realidade da qual a maioria não se dá conta. A vasta popularidade destas histórias de príncipes em seus cavalos brancos... vamos acordar! Isso não existe, é só um mero símbolo criado pela igreja pra fazer da mulher subserviente!
Peguei pesado? Acho que não... Bem, as mulheres preferem mesmo o Lobo Mau! rs

Adriana Peliano disse...

Se você se interessar sobre a importância dos contos de fadas na vida de cada um, acesse o blog:
http://discontosdefadas.blogspot.com/